Tenho formação, experiência e motivação. E agora, Portugal?

“Se conhecimento fosse garantia de oportunidade, o LinkedIn seria o novo banco de empregos dos sonhos.”

Portugal é, sem dúvida, um país encantador. Tem pastéis de nata, boas escolas, praias de postal e um clima que nos faz esquecer que o resto da Europa veste três casacos enquanto cá ainda andamos de t-shirt em outubro. Mas quando o assunto é o mercado de trabalho… bem, aí o sol já não brilha tanto assim.

Se tens um percurso profissional sólido, formação académica de qualidade e alguma ambição no bolso (além do currículo em PDF), é provável que te tenhas feito a mesma pergunta que eu:Por que é tão difícil encontrar uma oportunidade à altura em Portugal?

A tal da “falta de oportunidade”

Segundo os dados mais recentes (e os lamentos em cafés e grupos de WhatsApp), o mercado português tem dificuldade em acompanhar o ritmo de qualificação dos seus profissionais. Há bons cursos, universidades decentes, e uma geração que estudou, trabalhou e até fez MBA aos fins de semana. O problema? O número de vagas qualificadas cresce ao ritmo de uma tartaruga em férias.

Enquanto isso, quem tem talento de sobra fica a bater à porta das mesmas empresas, recebe propostas de “estágios curriculares” aos 40 anos, ou ouve aquela frase mítica:“O seu perfil é excelente, mas neste momento procuramos alguém com menos experiência… e menos salário.”

Quando o currículo assusta mais do que impressiona

Para quem, como eu, já passou por áreas como gestão, finanças, compras, liderança de equipas e até criação de projectos digitais, parece lógico pensar: “De certeza que há uma empresa em Portugal à procura disto tudo!”. Só que a realidade é outra: muitos negócios ainda não sabem que precisam de ti — e outros preferem manter tudo como está, mesmo que “como está” esteja a 10 anos da inovação.

O mercado, infelizmente, ainda valoriza o “conhecido” ao invés do “qualificado”. E isso pode ser frustrante para quem não está a começar, mas também ainda tem muito para construir.

Mas nem tudo é Fado

Há luz ao fundo do túnel — e não é só a da ponte 25 de Abril. Portugal está a tentar reinventar-se. Há incentivo ao empreendedorismo, às start-ups, à economia verde e ao digital. Pequenos polos de inovação vão surgindo em Lisboa, no Porto e até em Braga (sim, Braga está na moda!). E é aqui que o teu perfil pode brilhar.

Pessoas com pensamento estratégico, experiência real, visão de negócio e capacidade de liderança são escassas. O segredo está em não esperar que o mercado te “descubra” — mas sim, fazer com que ele te veja.

Reflexões para quem está no mesmo barco (ou avião)

Se estás nesta fase de “qualificado demais para as vagas disponíveis, mas jovem demais para desistir”, aqui vão algumas sugestões com humor e honestidade:

• Adapta o discurso, não o valor: fala a língua do mercado, mas não apagues o teu brilho para caber numa descrição de função desatualizada.

• Mostra resultados, não só diplomas: empresas portuguesas valorizam prova de entrega. Não basta ter MBA, é preciso mostrar o que fizeste com ele.

• Sê estratégico com o networking: Portugal é pequeno, mas as boas conversas ainda abrem mais portas que mil candidaturas automáticas.

• Empreende, se for o caso: às vezes, criar a tua própria oportunidade é o caminho mais rápido para provar o teu valor ao mercado (e a ti mesmo).

• Leva o humor contigo: porque neste país, onde o café forte e o sarcasmo andam de mãos dadas, o bom humor ainda é uma competência valiosa.

Portugal tem potencial. Tu tens potencial. O mercado nem sempre está à altura, mas está a mudar. E a mudança, ainda que lenta, precisa de profissionais como tu — experientes, comprometidos, criativos e prontos para contribuir com mais do que um CV bonito.

Se estivermos juntos nesta jornada (com ou sem contrato assinado), que pelo menos possamos rir um pouco, aprender muito e nunca deixar de tentar.

Porque quem tem bagagem não se perde. Pode demorar a chegar, mas chega lá.